Na natureza selvagem: em busca da verdade sobre si mesmo

Por Juliana Alves Jerônimo
            Há momentos na vida do homem que ele precisa parar para fazer uma reflexão de sua vida e de si mesmo, esse é um dos principais destaques do filme dirigido por Sean Penn, Na natureza selvagem, um longa-metragem de 2007, baseado no livro de mesmo nome, do jornalista Jon Krakauer, que conta a história verídica de Christopher McCandless, teve um orçamento estimado em US$15.000.000 fazendo parte dos gêneros: aventura, biografia e drama que apesar da duração de 148 minutos deixam os espectadores hipnotizados pelas belas cenas, sons, excelente trilha sonora e pensamentos destacados periodicamente de forma escrita e falada no decorrer de todo o filme. Foi muito bem ambientalizado, passando por imagens lindas de várias regiões norte-americanas, partindo da Universidade de Atlanta, passando por Detrital Wash, Carthage, Bullhead City, Las Vegas, Orick, Salton City até chegar a Fairbanks, no Alasca, seu grande objetivo final. Apesar de uma história biográfica romantizada, é possível notar claramente a dificuldade encontrada pelo Christopher, que durante sua fuga adota o nome de Alexander Supertramp, em mais uma tentativa de fugir não só da sociedade que despreza mas de si mesmo, o que aparece explicitamente na cena onde, ao passar por Los Angeles, caminha pelas ruas encontrando pessoas se drogando, jogadas ao chão, e próximo a essa pobreza material observa em um bar cheio de pessoas vivendo como se não houvesse nada além daquele mundo de riquesas em que estão inseridas, e se ve em um dos clientes, se imagina como uma daquelas pessoas totalmente alheias as dificuldades enfrentadas pelos outros, o que aumenta sua ânsia de sair daquele ambiente.
            Em todos os momentos do filmes, deve-se destacar a brilhante participação do ator Emile Hirsch, que para dar vida ao papel de Alexander, passou por muitas mudanças corporais, inclusive perdendo cerca de 18kg, o que lhe rendeu várias indicações a prêmios importantes como melhor ator e performances marcantes.
            Assim como o verdadeiro Christopher, mesmo com toda sua inteligência, foi muito influenciado por suas várias leituras como Jack London, Leo Tolstoy e Henry David Thoreau, o filme nos influencia a pensar na situação proposta por Alexander Supertramp, uma busca pela real importância das coisas materiais, valores e princípios a nossa volta. Que em sua jornada em busca de uma felicidade simples, sem interferência de relações hipócritas, se afasta de todos ao qual poderia a vir se apegar afetivamente, tornando-se ao nosso ver uma pessoa um tanto egoísta, insensível, porém muitíssimo carismático, conquistando a todos que o conhceciam. A maioria dos telespectadores, apesar desses defeitos, simpatizaram com o personagem.
            O filme apresentado fora de uma ordem cronológica, as cenas da viagem até o Alasca, mas parecem lembranças do próprio Christopher, durante sua estadia de 4 meses em Stampede Trail. Onde só sobreviveu tanto tempo por encontrar um ônibus abandonado que aparentemente já era usado como abrigo por caçadores. Portanto sua vivencia não foi assim tão selvagem, pois tinha recursos, como aquecedor, colchão, talheres, livros, armas de fogo, caderno, caneta que não fazem parte de uma vida totalmente livre de coisas materiais como pregava o próprio Alexander Supertramp. Após certo tempo nessa condição, aparenta apresentar uma alienação de pensamentos, eventualmete demonstrando uma falta de capacidade de raciocínio lógico perante algumas situações, frizado principalmente na cena em que tenta contar os números e custa a chegar ao número três. Mesmo vivendo dessa forma, não se descuidou da aparência, fazia a barba e tomava banho com frequência, em banheiros públicos, sistemas de irrigação ou no chuveiro improvisado que fez quando estava no “magic bus”.
            Apesar dos registros feitos pelo mesmo, até onde todos os fatos mostrados são realmente verídicos? Um fato colocado em questionamento é a fome pelo qual passou no final de sua vida, já que morava no “Magic Bus”, um ônibus que se localizava próximo a um rio, será que até os peixes do rio sumiram durante o verão? E segundo os alasquenses, Christopher estava cerca de 30 km da estrada do parque e há 400m de Stampede Trail um trilho de trem passava pelo rio. Outro fato é o de que não havia evidências de plantas tóxicas no magic bus, estudo feito pelo Dr. Thomas Clausen da Universidade do Fairbanks no Alasca, até o próprio autor do livro, modificou várias vezes sua teoria sobre a morte de Christopher, partindo da batata selvafem, para a ervilha selvagem e atualmente mofo presente nas raízes. Com tudo isso o mais provavel é concluir que realmente morreu de fome, principalmente devido ao seu despreparo para tal aventura, não tinha nem um mapa da região, esperou ficar com muita fome para identicar as plantas da região e não deixou preparada nenhuma estrutura de pesca ou caça de pássaros. Desde o início tinha a intenção de caçar um animas de grande porte mas nem ao menos se preparou para quando isso acontecesse, deveria ter deixado armado o lugar da defumação e todo o necessário para a conservação da carne.
            Infelizmente, foi somente no fim de sua vida, já muito debilitado por causa da fome e ciente de que sua morte era proeminente, que Christopher finalmente volta a aceitar seu verdadeiro nome e percebe que todos os momentos mais felizes de sua vida foi compartilhando-a com alguém, seja Waine, Tracy, Ron, Jane e Rayne, e outras pessoas com as quais viveu momentos importantes durante sua viagem, chegando a escrever com dificuldades “happiness only real when shared” (a felicidade só é real quando compartilhada) em um dos livros que tanto gostava. Sentindo a solidão e a morte se aproximando, parece que segue o conselho de Ron, perdoando os pais, em uma cena muito emocionante, que nos deixa na dúvida se é uma lembrança ou sua imaginação. Enfim, passou a vida toda perseguindo algo que poderia estar tão perto, uma vida simples, sem luxo, mas com pessoas também simples a sua volta.
            Suas últimas mensagens deixam claro que tinha consciência que ia morrer, mas contraditoriamente pedia desesperadamente por ajuda portanto, diferente que muitos pensam que teria morrido feliz com a vida que levou por causa da frase deixada por ele (“Tive uma vida feliz, e agradeço ao Senhor. Adeus e que Deus vos abençoe a todos”), seus últimos dias foram de extremo desespero, solidão e saudade (“S.O.S. Preciso de ajuda. Estou aleijado, quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou totalmente só, não estou brincando. Pelo amor de Deus, por favor, tentem me salvar. Estou lá fora apanhando frutas nas proximidades e devo voltar esta noite. Obrigado, Chris McCandless”).
            Hoje, o “magic bus” é lugar de peregrinação, onde várias de pessoas, ou influênciadas pelo livro ou pelo filme, ou ainda por se identificarem com o Christopher, viajam até o Alasca todos os anos, fazem uma trilha por uma estrada muito ruim entre uma vegetação mais rasteira, atualmente podendo ser feita de carro, até o ônibus 142 do sistema de trânsito de Fairbanks todo enferrujado, próximo a área do Parque Nacional Denali. A questão é, o que buscam por lá? O que esperam encontrar no ônibus abandonado? Será que é possível, num deterninado lugar como este, encontrar respostas para as dúvidas pelas quais todos passamos todos os dias de nossas vidas? Encontrar a sua essência é a tarefa mais árdoa enfrentada pelo ser humano, são poucos os de nós passam pela vida sabendo exatamente quem são, do que gostam, o que os fazem felizes, todos os demais vivem numa eterna busca, na ansia de encontrar o que os realmente fazem felizes.