sexta-feira, 26 de abril de 2013

DESABAFO DE UMA PROFESSORA

Juliana Alves



Trabalho sim por amor, pelo dinheiro é que não é.
Trabalho por convicção, por achar que ainda posso contribuir para um mundo, país, comunidade melhor.
Trabalho por vocação, pois foi ela que me levou a essa profissão e é ela que me mantém como professora (não educadora, pois acho que essa tarefa não cabe a mim, mas a família, porém acabo por fazê-la diariamente).
Estudei tanto, estudei de tudo, desde a minha área que é química, passando por psicologia, filosofia, didática, metodologia, tudo isso e mais um pouco para dar aulas. Foram anos de universidade e pós-graduação.
Testei tudo que aprendi e, por teimosia, ainda continuo testando. E quando acho que não devo mais e o melhor é desistir deixando assim mesmo, tento novamente!
Trabalho 24 horas por dia, porque até meu sono perco pensando e programando o que preciso fazer e preparar para a aula do dia, da semana, do mês seguinte.
Trabalho assistindo jornal, novelas, lendo, na internet, em tudo que faço, pois tudo pode ser um ponto de discussão, introdução ou questionamento em minhas aulas ou até fora dela (algo que acontece bastante).
E, ao chegar à escola, o ambiente que deveria ser de curiosidade, intelectualidade, busca por conhecimento, o que vejo?
Vejo jovens que estão ali por estar ou por obrigação.
Vejo jovens que não sabem por que estão ali, sem objetivo nenhum. Que pensam em ser nada na vida, não vejo mais alunos das séries iniciais do ensino médio estudando para ser algo como advogado, médico, professor, seja qual for à profissão. 
Vejo jovens reclamando de um lugar, da aula, do professor, do mundo como um todo, mas que estão ali, sem um motivo sem vontade de aprender para realmente mudar algo.
Vejo uma escola sucateada, onde todos culpam um governo (que tem sim sua parcela de culpa por gastar em estruturas mal feitas entre outras coisas), mas não foi ele que quebrou a porta, a mesa, as carteira. Não foi ele que riscou as carteiras, as paredes e o teto. Os jovens que reclamam tanto de que está tudo estragado são os mesmos que destroem.
Se o diretor não precisasse gastar a pouca verba que tem em consertos poderia fazer algo mais.
Já não basta a má distribuição da renda como um todo? Pagamos milhões em impostos para não aproveitarmos nem o mínimo disso, pois quando um professor quer realmente dar aulas, usando todo seu conhecimento, o que escuto é que sou chata, deveria ter faltado, por que a professora veio? Isso independente do tipo de aula que o professor dê.
Então me questiono como podemos melhorar a educação se os maiores interessados nela (os alunos e familiares) não querem? Não se preocupam? Não se interessam? Se, para eles, está bom assim, afinal é “gratuita” ( maior mentira é a gratuidade de algo nesse país, pois todos pagam, inclusive os que não a usam e mesmo assim continuam falando em gratuita e de qualidade).
Muitas vezes perco a esperança (sei que isso acontece com todos os professores desse país), mas levantamos a cabeça e pensamos, se até nós desistirmos daí mesmo o que será do futuro?
Tento diariamente plantar a sementinha da educação, hoje em dia raramente brota, mas uma sequer que nasça e cresça já está deixando meu coração contente. Gostaria que fossem todas, mas...